quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Conto de Natal

Sempre ouvimos dizer que, normalmente, os médicos são bons escritores… e basta ver, na nossa literatura, quantos casos há!
Ora reparem neste belo texto que este menino – hoje também ele médico – escreveu aos 11 anos, quando era aluno do 6º Ano. Para informação, dizemos também quem ele é: é o Dr. Fernando Correia, filho da nossa colega Celeste Correia, ex-professora da nossa escola.


Conto de Natal


     Era dia de Natal! Tudo estava alegre e em festa! Todos se atropelavam pelas ruas daquela pequena aldeia. Todos preparavam o Natal! Só João, encostado a um canto, não partilhava dessa alegria. João era um menino de 11 anos, alto, magro, dócil, bondoso e humilde, pobre, que fora abandonado por seus pais, em pequeno.
     O pouco que lhe davam não  chegava e, por isso, roubava de vez em quando, não por mal, mas para sobreviver. Às vezes lamentava-se de ter nascido, pois esta vida trazia-lhe muitos desgostos.
     Levantava-se cedo, pois a Natureza não o deixava dormir mais. João vivia ao pé de uma ribeira que passava no pinhal.
     Sua casa, um casebre, que tinha encontrado por acaso num dos seus passeios habituais, chegava para as suas exigências. A luz que possuía era proveniente de uma lareira que ele construira com pequenas pedras encaixadas de maneira rude mas eficaz, com uma chaminé pequenina. Ele vivia com um companheiro que o seguia em todas as suas aventuras e desventuras desde miúdo, um cão chamado Tintin.
     Porém, esta manhã, João levantou-se mais cedo. Palmilhou a cidade de lés a lés à procura de não sei de quê: talvez dos seus pais, que tinham ido embora, há muito, de qualquer coisa, qualquer pensamento, qualquer certeza...
     Hoje, as pessoas pareciam-lhe mais simpáticas, talvez por ser Consoada, todas lhe deram alguma coisa. Pôs tudo num saco que houvera encontrado ali perto, levou tudo para casa e voltou a saltitar, como sempre.
     Chegou o meio-dia e todas as simpáticas pessoas recolheram ao conforto de suas casas. João, ao ver-se sozinho, entristeceu, mas, a sua alma, subitamente, alegrou-se ao avistar um casal recém-casado que lhe pediu, muito delicadamente, que se juntasse a eles para almoçar num restaurante que servia bem e era modesto.
     À tarde, decidiu ir conhecer o longo e misterioso pinhal. Chamou o Tintin e lá foram eles. João ouviu e registou na sua pequena cabeça inúmeras cores e sons, fez também muitos amigos entre os quais um esquilo que nunca mais o largou. Matou a sede na água pura e límpida da ribeira. Voltou a casa, alegre, raro naquela criança.
     Jantou conforme a tradição pois tinha conhecido um casal de velhinhos a quem prestou uma companhia preciosa. Partilhou com eles os mimos que houvera recebido das gentes da sua aldeia e saiu.
     Mais tarde, João, com o esquilo ao ombro e o Tintin no seu encalço, regressava a casa. Passava nas diversas ruas e via famílias inteiras, alegres, reunidas, felizes. Parava de vez em quando a contemplá-las tentando confortar-se com a alegria dos outros...
     João, ouvindo lá longe as badaladas da meia-noite, encostou-se a um canto, já sem nenhuma esperança de encontrar seus pais, mas, ao mesmo tempo, pedindo a Deus Menino que o ajudasse. E Chorou, chorou, chorou até que, mal soou a última badalada, das suas lágrimas surgiram Renas, não Renas vulgares, mas sim,Renas  Mágicas que o levaram até seus pais que, arrependidos de o terem abandonado, o acolheram de braços abertos e lágrimas nos olhos.

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