A professora Fátima Coimbra enviou-nos uma maravilhosa narrativa feita na disciplina de Português pela sua aluna Célia Subtil. Bem sabemos que a quadra natalícia já lá vai, mas a qualidade da prosa impõe que mergulhemos na admirável lição que a história encerra.
A melhor prenda de Natal
A lareira crepitava e o ambiente ali contrastava com o frio que se fazia sentir lá fora. O pinheiro estava enfeitado com fitas de todas as cores e brilhava tanto que parecia que todas as estrelas do céu o tinham vindo visitar. Para além disso, muitos presentes tinham sido colocados debaixo dele. Ouviam-se gargalhadas e havia um cheiro quente e húmido no ar. Enfim… era véspera de Natal.
À mesa todos falavam e todos se ouviam, sem saberem bem como. Iam contando histórias e anedotas e, no meio de toda a confusão, iam tirando para o prato grandes quantidades de bacalhoada, prato tipicamente português, convidado habitual na noite de Natal. Todos comiam, todos riam e todos se divertiam.
Mas havia um pequeno que só queria que chegasse a meia-noite, pois sabia que apenas nessa altura se abririam os presentes. Enquanto os outros comiam, riam e falavam, ele olhava sonhadoramente para os embrulhos, tentando adivinhar o que continham. Estava ciente de que os pais não lhe poderiam dar muito, por causa de uma tal de “crise” que assombrava o país inteiro, mas desejava ardentemente receber uma consola naquele Natal.
Dlim, dlão! Soava agora o sino da igreja, marcando a meia-noite e o nascimento de Jesus Cristo. Era hora de abrir as prendas e Pedro precipitou-se para os embrulhos, desejoso de encontrar aquilo que queria. Mas nada… Um livro sobre ciências, uma enciclopédia sobre animais, um gorro, algum dinheiro e um grande casaco. Onde estava a sua consola? Aquele teria sido o melhor de todos os presentes que já tinha recebido e os pais não tinham correspondido ao seu pedido! Que desilusão…
Resignado com tudo aquilo, agradeceu todos os presentes, mas ficou um pouco triste.
No dia seguinte, dia de Natal, a mãe e o pai levaram-no a passear ao parque da cidade. Os jardins estavam cobertos de neve, tal como todo o resto, e os pais de Pedro adoravam ver o jardim assim pelo Natal.
Sentaram-se num banco a descansar e foi nessa altura que Pedro reparou noutro rapaz que se encolhia perto de uma árvore, tremendo tanto que parecia que os seus ossos se poderiam partir em mil pedaços se alguém lhe tocasse. Pedro aproximou-se com cautela e, quando o outro rapaz o viu, encolheu-se ainda mais, temendo que Pedro fosse violento com ele. Nenhum dos dois disse coisa alguma durante alguns segundos, enquanto Pedro se esforçava por não chorar, reparando nas feridas que eram visíveis na pele do rapaz, que estava roxa por causa do frio.
Depois, olhando para o casaco que os pais lhe tinham oferecido em vez da consola, decidiu despi-lo e, entregando-o ao rapaz, sorriu para que ele aceitasse a oferta. O rapaz aceitou-o nas suas mãos e sorriu-lhe de volta com um sorriso tão sincero e caloroso que teria aquecido até o mais gélido dos corações.
Os pais de Pedro, que assistiram a tudo, nada lhe disseram quando ele voltou para junto deles e lhes pediu para voltar para casa porque estava com frio. Ambos estavam cheios de orgulho por terem um filho assim.
Quanto a Pedro, guardou aquele sorriso no coração toda a vida como a melhor prenda de Natal que alguma vez tivera.
(Célia Subtil, n.º 9, 8.ºB)
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