Certo é que o bolo, devido às frutas e à forma circular com um buraco no centro, aparenta uma coroa incrustada de pedras preciosas.
Depois, também a fava e o brinde, hoje em desuso alegadamente por questões de segurança alimentar, têm uma explicação tradicional. Segundo a lenda, quando os Reis Magos viram a estrela que anunciava o nascimento de Jesus, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a brindar o Menino. Com vista a acabar com aquela discussão, um padeiro confecionou um bolo escondendo no seu interior uma fava, para que aquele que a apanhasse fosse o primeiro a entregar o presente.
A história não conta no entanto, qual dos três, Gaspar, Baltazar ou Belchior, foi o feliz contemplado.
Até há bem pouco tempo, ditava a tradição que quem recebesse a fatia com a fava, teria de oferecer o Bolo-rei no ano seguinte. A fava, amaldiçoada pelos sacerdotes Egípcios que a viam como alojamento para os espíritos, é considerado o elemento negativo, representando uma espécie de azar.
O brinde era colocado no bolo como forma de presente. Havia quem colocasse nos bolos pequenas adivinhas cuja recompensa seria meia libra de ouro. Outros incluíam propositadamente as moedas de ouro na massa, como forma de agradecimento. Com o passar do tempo o brinde passou a ser um pequeno objeto metálico de valor apenas simbólico e mais tarde, com as regras comunitárias, tanto o brinde como a fava acabaram por ser interditados.
Ainda o Bolo-Rei …
Em tempos idos havia ainda uma outra tradição, a de que os cristãos deveriam comer 12 bolos-reis, entre o Natal e os Reis, festa celebrada na corte dos reis de França.
É daí, de França, que surgem as primeiras evidências do uso do Bolo-Rei, da corte de Luís XIV. Vários escritores escrevem sobre ele, e Greuze celebrou-o num quadro, exatamente com o nome de Gâteau des Rois.
Curiosamente, devido ao nome e à conotação com a realeza, o Bolo-Rei foi proibido após a Revolução Francesa, em 1789, tendo os pasteleiros mudado o nome do bolo para poderem continuar a confecioná-lo.
Por cá, depois da proclamação da República, a proibição do bolo-rei esteve também prestes a acontecer, mas sem sucesso.
Tanto quanto se sabe, a primeira casa onde se vendeu Bolo-Rei em Portugal foi em Lisboa na Confeitaria Nacional, por volta do ano de 1870, bolo feito pelo afamado confeiteiro Gregório através duma receita que Baltazar Castanheiro Júnior trouxera de Paris.
No Porto foi posto à venda pela primeira vez em 1890 por iniciativa da Confeitaria Cascais feito segundo receita que o proprietário Francisco Júlio Cascais trouxera de Paris.
Assim o Bolo Rei atravessou com êxito os reinados da rainha D. Maria II e dos reis D. Pedro, D. Luís, D. Carlos e D. Manuel II.
Com a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910 chegaram a Portugal os maus tempos para o Bolo- Rei. Devido ao nome, o bolo tinha que desaparecer ou então…
Mudar de nome!
Os menos imaginativos deram-lhe o nome de ‘ex-bolo rei’, mas a maioria chamou-lhe bolo de Natal ou bolo de Ano Novo. A designação de bolo Nacional seria a melhor, uma vez que remetia para a confeitaria que o tinha introduzido em Portugal, e também por estar relacionado com o país o que ficava bem em período revolucionário.
Não contentes com nenhuma destas ideias, os republicanos mais radicais chamaram-lhe bolo Presidente até houve quem lhe chamasse bolo Arriaga.
Daí até aos dias de hoje, o negócio dos bolos-rei alastrou das Confeitarias e Pastelarias aos super e hipermercados e hoje qualquer boa mesa de consoada natalícia não dispensa o famoso bolo, que apesar do nome poderá ter consistências e sabores muito diferentes, consoante o local em que é produzido e as receitas que têm por base.
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