quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

AS METAMORFOSES DO LIVRO

A história que se segue foi escrita pela professora Celeste Correia em Outubro do ano passado, aquando da inauguração oficial da nossa biblioteca, e é uma bela forma de apelar à leitura. O Cata Letras agradece a colaboração inestimável da professora Celeste e aproveia para relembrar que todos os leitores do Blog podem enviar as suas participações criativas para o endereço à direita ou, se preferirem, deixá-las ao cuidado da D. Maria José na Biblioteca.
As Metamorfoses do Livro
Nasci numa velha aldeia raiana, sem carros e sem luz eléctrica, onde a calma e o silêncio eram de ouro e o tempo passava, tão devagarinho, que parecia acariciar-nos a vida. Então, o dia era o Sol recheado de Esperança e a Noite o colo mágico dos Sonhos!
Eram tão poucos os que sabiam ler e tão poucos os que iam à escola! Respiravam-se as sabedorias dos antepassados.
Quando eu era pequenina, ainda mal sabia andar, lá, na minha velha aldeia raiana em cujas ruas habitavam saberes muito, muito antigos, todas as noites, podiam sentir-se os apelos que o silêncio da Natureza ditava. Durante repetidos dias e anos, uma voz feita de carícia chegava, afagava os meus ouvidos e falava coisas que eu não entendia. Porém, um dia, de tanto me chamar, já não eram só apelos, pareceu-me ouvir :
- Sabes quem colocou aquela Estrela, lá no alto? Aquela, bem lá no alto? A mais brilhante?
Com o passar do tempo e o crescer da idade, fiquei tão ansiosa que, um dia, já sem paciência, gritei-lhe, irritada:
- Ensinas-me já ou preciso crescer mais? E a carícia, mais que voz, respondeu:
- Agora são outros tempos…já andas na escola!... Começa desde já e um dia brilharás junto dela.
E eu não sabia o que queria dizer começar e continuava cada vez mais intrigada e o mistério sempre a chamar-me. Porém, já crescidinha, quase em desespero, perguntei:
- Foi Deus quem colocou, lá no alto, aquela estrela? E a voz explicou-se melhor e revelou:
- Sim. É um daqueles velhinhos, desta velha aldeia que te contava “histórias à lareira”. Viveu sem livros que ainda os não havia. Era no tempo em que o saber passava de boca em boca. A sua vida foi um livro, tão belo, tão belo! Como o são as vidas dos velhinhos deste velho Portugal que vai desaparecendo!. Livros vivos não podem perder-se. Só mudam de lugar… E moram nas Estrelas!
Comecei a compreender!... Mas viam-se tantas estrelas que não me contive:
-E as outras estrelas? Respondeu-me:
-São todos e cada um daqueles que, de geração em geração, continuaram as “Histórias à Lareira”.
E foi assim durante muitos anos até que o Homem cresceu, cresceu, cresceu. Viveu a idade da pedra, do ferro, do cobre e do bronze…Aprendeu a ler, a fazer barcos, comboios e aviões e naves espaciais e coisas que duram pouco tempo. Passou os Mares e venceu os Oceanos. Aprendeu a ler e a escrever. Inventou o papel e a Imprensa. Registou tudo no papel e fez livros.
Todavia, aquela magia continuava a convidar-me e acrescentou:
-Já não precisas de jogar “à cabra cega”como te ensinei nos “Contos à Lareira”. Tens livros. Trata-os como se fossem estrelas, adivinha-lhe os segredos e brinca com eles. São os amigos certos de todas as horas incertas. Estão sempre à tua espera. Descansa na carícia do seu brilho. Escuta o silêncio da Esperança. Tu, agora, já sabes ler. Já sabes o nome das coisas que estão registadas em livros. Os antigos gravaram os seus feitos nas Estrelas e o homem criou o Livro para imortalizar a Criação e o Universo dos Saberes.
Ainda hoje escuto aquela voz de criança e convido-o, amigo leitor, a ser a criança que lhe apresentei e a deixar-se encantar pela magia do local onde se encontra. (Biblioteca). Imagine que todos estes livros se transformam em Estrelas! …e junte a “Odisseia da sua Vida” a este universo de Estrelas. Comece também a abrir cada uma delas… e cresça… cresça …nesse Espaço sem limite. Um dia partilhará saberes Universais e sentir-se-á responsável pela Ciência e pela Evolução da Humanidade.
A sua Estrela será Eterna. Leia!
(Celeste Correia)

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