terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A felicidade encontra-se

A Cíntia do 8º C ganhou o prémio de melhor “Conto de Natal” (iniciativa das professoras de Língua Portuguesa do 8º ano) com a magnífica história que temos o prazer de apresentar e que nos transporta pelo reconfortante mundo da bondade e da generosidade. Deixem-se tocar:
A Felicidade Encontra-se

Tinha sido mais um dia de trabalho. Um dia a pôr sorrisos na cara das pessoas, ou por ter dito uma piada a uma senhora que passava na rua, ou por cantar uma canção antiga que trouxesse boas memórias… Pese embora os sorrisos não lhe darem dinheiro no final do mês, davam-lhe alegria todos os dias.

Estamos a falar do senhor Ernesto… Um velhote, sem-abrigo, acompanhado apenas pelas suas roupas esfarrapadas, os seus cabelos brancos (que o iam abandonando a pouco e pouco) e a sua viola. Com uma história de vida desconhecida, recebia as tempestades com um sorriso, as pessoas com um olhar alegre, a vida com uma lágrima de gratidão e o mundo com um abraço.

Na vida dele, o verbo receber não era importante. Porém, o dar já havia sido conjugado muitas vezes, por vontade própria. Mas Ernesto nunca parava. Todas as ocasiões eram motivo para tornar alguém um pouco mais feliz. Naquele Natal, ele queria fazer algo de novo. Todas as manhãs ele ia para a baixa de Coimbra tocar viola, para receber uns trocos, que eram de seguida gastos num pão com qualquer coisa, ou sem nada, acompanhado de um copo de água, pedido nalgum lado. Mas naquele dia, ele abdicou do seu pão, e em vez disso, comprou um fato de pai Natal. Sentou-se, e já vestido, começou a cantar e a tocar, com uma folha de papel ao lado que dizia: “DÁ-SE FELICIDADE”.

Inicialmente, ninguém ligou, até que passou um rapaz com pouco mais (senão menos) de oito anos, cabelo castanho, olhos cor de mel e muito bonitinho, que pediu à sua mãe para ir ao “Pai Natal”. Depois de muita insistência, a sua mãe cedeu, e aproximando-se do senhor, perguntou-lhe se poderia dar uma palavrinha ao filho dela. Claro que o senhor Ernesto, muito querido e simpático, logo disse que não havia problema.

Enquanto a mãe do menino estava a falar com uma colega de trabalho que encontrara, a conversa ia muito interessante…

O menino apresentou-se, era o Salvador, tinha oito anos e vivia perto da Arregaça, na rua Verde Pinho. O menino estava um pouco envergonhado ao início mas Ernesto, para lhe tirar a vergonha, começou a contar coisas sobre a sua vida. Contou-lhe que a sua mulher e a sua filha tinham falecido num acidente de carro... E que quando elas morreram, ele ficou muito triste, pois elas eram a única família que ele tinha. Arrependido, contou que se tinha despedido do trabalho, e que fez muitas asneiras, que não lhe valeram de nada. Com este desabafo da parte do “Pai Natal”, o menino começou a ganhar confiança no Sr. Ernesto e também decidiu falar sobre a vida dele. Contou que os pais dele eram divorciados, e que não conhecia os avós paternos… Falou dos amigos da sua escola e sobre o que gostava de fazer… Depois, nos últimos minutos de conversa, estiveram a falar de raparigas e Ernesto esteve a dar conselhos de conquista ao Salvador, que se ria à gargalhada.

Todavia, já tinha passado muito tempo e Salvador tinha de ir lanchar. A D. Elvira (mãe do menino) chamou-o para ele se vir embora e este olhou para o “Pai Natal” e disse: “Gostava que fosses meu pai.”

D. Elvira tirou uma nota da carteira e colocou-a na mão do senhor. Este, já muito comovido pelo gesto do menino, rejeitou-a e disse:

- Eu dou felicidade, não vendo.

A senhora, ao ouvir isto, guardou de volta o dinheiro, sorriu, desejou um Feliz Natal e foi-se embora.

No dia da consoada, Ernesto tinha dois euros. Não dava para nada! Eram oito horas da noite e ele a vaguear pelos bairros…Já na Arregaça, subiu ladeira acima e chegou à Verde Pinho…Nem se lembrou que era ali que vivia o Salvador. Até que ouviu um grito que chamava pelo Pai Natal. Era ele que o estava a chamar. A Dona Elvira ficou um pouco atrapalhada, mas logo se recompôs e disse a Ernesto para entrar e se aquecer.

Nunca ninguém tinha sido tão bondoso com ele. Aquele senhor, que toda a gente conhecia como um mero sem-abrigo, mostrou a um miúdo de oito anos a sua verdadeira personalidade. Ernesto passou a consoada com o menino e com a família dele. Tornou-se muito amigo deles todos e viveram sempre como se fossem do mesmo sangue.

Ernesto despertou o verdadeiro espírito de Natal naquela família. A bondade, o amor, a generosidade… Agora, Ernesto tinha uma casa onde viver, mas não deixava de visitar as ruas com frequência…mas desta vez, o papel que ele trazia com ele dizia:

“A FELICIDADE NÃO SE RECEBE, ENCONTRA-SE”

(Cíntia Pinheiro, 8ºC)

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